Menu
liberia 2024

Blog World Creativity Day

What happens in São Paulo

Você está em Blog DMC > São Paulo

“A gente é uma sociedade heterogênea e essa é a graça”


banner dmc

conheça o jornalista e contador de histórias Lucas Galdino, influenciador confirmado no Festival Mundial da Criatividade. 

 

Lucas Galdino sempre esteve envolvido com pautas sociais em sua carreira acadêmica e profissional. Passou pela Catraca Livre e criou a Gaymada São Paulo, evento que foi considerado o segundo Melhor Evento LGBTQIA+ de São Paulo, em 2016. Junto com Alexandre Simone criou o Histórias de ter.a.pia porque acredita que é através das histórias reais de pessoas reais que se transforma o mundo. Na entrevista, Lucas fala sobre como as histórias mudaram sua vida, e de como suas ações podem mudar histórias.

 

Como era a sua relação com a criatividade na infância?

 

Eu sou o filho mais novo, e temporão, entre os primos também o mais novo, então eu ficava meio perdido nessa relação familiar e sempre tive que brincar sozinho. Mas isso nunca foi triste, eu desenvolvi uma habilidade criativa grande pra me divertir. Sempre brinquei sozinho também por gostar de estar sozinho. E acabava levando isso pros amiguinhos, de criar coisas, e sempre tive a iniciativa de liderar as brincadeiras também. 

 

Como a contação de histórias entrou na sua vida?

 

Ela entra quando decido ser jornalista, na adolescência. Estudava em escola pública, no bairro Fazenda da Juta, no extremo da Zona Leste de São Paulo. Uma professora incentivou a gente a fazer trabalhos sociais na escola e isso começou com um grêmio. Eu logo virei presidente do grêmio e comecei a ter contato com as pessoas, que traziam problemas, questões. Desenvolvemos um jornal chamado Voz Ativa e fui desenvolvendo a vontade de ser jornalista. E o jornalismo me trouxe a habilidade de ouvir profissionalmente. Mas pra frente eu desenvolvi a Gaymada em São Paulo, no Largo da Batata, onde eu reunia LGBTs pra jogar queimada, e ali também as pessoas vinham contar suas histórias pra mim, que era uma espécie de host do evento. Elas não vinham me contar as coisas porque achassem que eu faria algo com as histórias, simplesmente me contavam pra eu escutar. 

 

E quando surgiu o Histórias de ter.a.pia?

 

Eu fui entendendo esse meu lado e em 2018 crio junto com o Alexandre o Ter.a.pia, que é de fato sobre ouvir histórias e contá-las. A gente editava e contava as histórias em vídeo de forma diferente do que a gente fazia no jornalismo: não eram entrevistas roteirizadas, cheias de perguntas, a gente estava ali de fato pra ouvir as pessoas. Eu fui pegando gosto e aprendendo literalmente a ouvir as pessoas. Hoje eu ouço com uma qualidade maior. Fui desenvolvendo a escuta ativa e transformando ela em um trabalho que possa inspirar outras pessoas. Depois dos vídeos a gente vem com o podcast e o livro A história do outro muda a gente, que é inclusive o tema da minha fala no Festival, onde a gente fala justamente sobre isso: por que é importante ouvir as pessoas? Pra resumir, a contação de histórias entra na minha vida em um viés muito formatado do jornalismo mas eu consigo transformar ela em algo onde vejo de fato um propósito. Eu consigo transformar isso em algo muito valioso pra entregar de volta pra comunidade. 

 

Como escutar melhor as pessoas?

 

Isso eu aprendi, antes eu não escutava tão bem as pessoas. A escuta ativa… ela vem no momento em que você entende que não necessariamente o que a pessoa vai falar diz algo sobre você. Diz algo sobre ela! A gente se acha na necessidade de dar conselho ou querer intervir, dar nossa opinião e a gente esquece de escutar de fato. No Ter.a.pia eu não interrompo, não estou ali pra buscar manchete, pauta, uma frase polêmica. Eu estou ali de fato pra escutar a pessoa e pra aprender com a história dela. E uso isso de forma muito propositiva. Gosto sempre de lembrar o poema Nenhum homem é uma ilha, do John Donne. A gente tá muito no caminho individualista e isso (escutar) faz com que a gente volte a ser o continente que a gente deixou de ser. A gente é uma sociedade heterogênea e essa é a graça, a partir dessa heterogeneidade vem a diversidade. A ideia é você reconhecer o outro pela história que ele conta.