“Materiais tão imporváveis fizeram um som tão bonito…”
conheça Paulo Salmaci, criador da Rádio Sucata e inspirador confirmado no Festival Mundial da Criatividade.
Projeto criado em 2013, com o objetivo de apresentar trabalhos artísticos utilizando somente os instrumentos musicais feitos de materiais típicos de descarte, construídos pelo músico Paulo Salmaci. As diversas frentes artísticas do grupo tem atuado nas redes privada e pública, com música, teatro, contação de histórias, oficinas, palestras e exposições.
Já apresentou seu trabalho em diversos locais como Itaú Cultural, Sesc, Senac, Unicamp, Projeto Guri, Virada Sustentável, Unirio e Rede Record Tv, sendo que em 2016 firmou seu espaço como ponto de cultura reconhecido pelo governo federal, em 2020 foi selecionado para o Laboratório de Inovação Cidadã da UFRJ e em 2023 recebeu o Prêmio Brasil Criativo com o primeiro lugar na categoria Música.
Paulo nasceu em Campinas, passou a infância em Goiás, e a adolescência em Mogi Mirim. Na família ninguém trabalha com música: “sou a ovelha negra”. Conheça agora a trajetória de Paulo Salmaci na criação de instrumentos musicais.
Como e quando você começou a tocar?
Até os 13 anos eu morei em Goiás e não conhecia ninguém que tocasse. Com 15, já em Mogi Mirim, eu conheci um pessoal que tinha banda na escola. Aí comecei a me envolver, a estudar bateria, aprendi a ler partitura, e fui tocar na banda municipal. Eu que pensava em fazer engenharia mudei de plano. Fui me interessando por percussão, que faz parte do mundo da bateria. Estudei no conservatório de Tatuí, na ULM em São Paulo, e depois fiz o curso de música na Unicamp. Eu me graduei em 2009 e comecei a dar aulas em projetos sociais. Em 2014 eu comecei a fazer os instrumentos com material reciclável. Hoje tenho uma banda com 5 pessoas: Reciclando MPB e uma dupla, a Compacto Duplo, com Felipe Canário.
E a Rádio Sucata surgiu quando?
A Rádio Sucata surgiu totalmente indepentendte. Sempre fiz gambiarras, sempre gostei de construir coisas. Na Unicamp, eu participei de um grupo chamado Tambaleio e a gente usava tambores africanos lá. Esses tambores são afinados com corda e comecei a observar como funcionava o sistema de cordinhas. Pra praticar, eu encontrei materiais, como um tubo de papelão. Imaginei que com a garrafa de refrigerante eu poderia fazer uma membrana pra pôr nesse tambor, ao invés do couro. Aí eu comecei a testar essa coisa da cordinha, de esticar. O primeiro tambor que eu fiz deu um som maravilhoso, fiquei impressionado. Aí foi uma coisa atrás da outra.
Como as pessoas recebem esses sons e instrumentos?
Geralmente as pessoas expressam surpresa quando veem, e é a surpresa que eu também senti quando toquei o primeiro tambor que eu fiz. Materiais tão imporváveis fizeram um som tão bonito… Hoje eu vejo essa surpresa nas pessoas. E ver ao vivo é uma experiência completamente diferente de ver na internet. Às vezes as pessoas mandam foto de instrumento que fazem casa, criança faz muito isso, um monte de amigo meu às vezes vê um instrumento diferente e me manda, e eu vou recebendo um monte de vídeo, de coisa maluca. Tem gente que guarda material pra mim e pergunta: você usa chapa de raio xis? Tem gente que guarda potinho de yakult. Dificil juntar potinho de yakult né? No carnaval a gente usou 300 pra fazer chocalho, e não dá pra achar isso do nada.
E como vai ser sua participação no festival?
No festival eu vou levar diversos instrumentos, vou selecionar coisas diferentes pras pessoas tocarem e entenderem de onde vem o som. Vou explicar como construí cada um: usei tal material, tal técnica, usei um aliate, dobrei, coisas desse tipo. Aí quem quiser tocar, pôr a mão… a ideia seria essa aí.
E você ganhou o Prêmio Brasil Criativo 2023…
Foi uma surpresa… Foi muito bom pro projeto chegar a mais gente, abriu oportunidades. E o trabalho com arte não é fácil, o retorno financeiro nem sempre vem da maneira como deveria vir, a gente tá sempre mais correndo do que ganhando né… Quando tem essas ações, premiação, ajuda muito a gente…