Conheça Jean Rosa, o autor das ilustrações que circularam dentro e fora das redes no aniversário de São Paulo, e que assina a identidade visual do Festival Mundial da Criatividade.
Nascido em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e hoje morador de Santos, Rosa desenha desde criança. Mas só passou a desenhar profissionalmente poucos meses atrás, quando tudo mudou na sua vida. E também não conhecia muitos dos ícones da cidade de São Paulo que homenageou nas obras. A Avenida Paulista, por exemplo, foi conhecer em janeiro deste ano quando foi gravar uma entrevista para o programa Mais Você, com Ana Maria Braga.
Rosa trabalhava com equipamento para cozinha industrial e sua esposa, Mari Poletto, tocava uma gráfica. Pouco antes da pandemia, ele saiu da empresa e se juntou a Mari no trabalho porque a demanda só crescia, tudo parecia ir bem. Mas nos três primeiros meses de confinamento, eles perderam todos os clientes. Mari jogou a ideia: “e se a gente for pro mundo digital?” Rosa sabia muito pouco de softwares de criação de imagens mas, com o incentivo da esposa e inspiração nas filhas Fernanda, de 13 anos, e Clarice, de 6, começou a experimentar o desenho digital.
Partiu de um pensamento: “A internet alcança muita gente. Vou fazer uma coisa de que eu goste e pode ser que tenha mais gente que goste, vou tentar”. Além do desenho, Rosa sempre gostou de colagem, e começou a fazer intervenções em fotografias. “Eu queria mostrar pras pessoas que a gente é criativo”.
A primeira intervenção foi sobre uma imagem icônica de Santos: desenhou um polvo enrolado em uma estátua brincando com uma garça, o mar ao fundo. A imagem circulou muito na cidade e “virou uma chavinha: então quer dizer que eu posso ser do jeito que eu sou e as pessoas gostam?”.
Rosa começou a acompanhar fotógrafos de drone, vendo imagens de lugares que nunca tinha visto com os próprios olhos, como a Avenida Paulista. “A quantidade de conteúdo que tem em São Paulo é absurda, você pega a arquitetura dos prédios: você tem arquitetura antiga, você tem arquitetura moderna, você tem prédio redondo, quadrado, triangular, em forma de caixinha, tudo instiga a criatividade, foi assim que escolhi São Paulo.”
A série Redescobrindo São Paulo nasceu de uma parceria à distância com o fotógrafo de drone Mavinho Acoroni. Rosa começou a fazer intervenções nas fotografias e, de um dia para o outro, tinha 1.200 seguidores a mais. Desde a primeira imagem lançada já apareceram convites para trabalhos e, para sua surpresa, o convite para uma exposição individual. “Eu nunca imaginei expor, era algo surreal.” O shopping Center 3 entrou em contato para exibir suas ilustrações na semana do aniversário da cidade. “A minha intenção esse ano era fazer de todas as capitais, mas surgiu muito trabalho por conta da repercussão e os planos mudaram.”
De olho na inventividade do trabalho visual de Rosa, Lucas Foster fez o convite para ele assinar a identidade visual do Festival Mundial da Criatividade, que acontece em abril de 2023 em São Paulo. “Eu fiquei muito empolgado. Já recebi muito convite grande mas esse foi diferente, parece que é um carimbo pra dizer que vai dar certo.”
Já deu certo. Confira o que ele diz sobre o processo criativo das imagens que tocaram tanta gente:
Seu olhar de fora parece que trouxe uma camada afetiva pra cidade, é por aí?
90% das coisas que eu desenhei ali eu trouxe da minha memória afetiva. Eu tenho um autorama do Ayrton Senna, eu ganhei e tenho guardado até hoje. O Jenga, que é aquele joguinho dos bloquinhos, eu brinco com as minhas filhas, a gente tem aqui desde quando eram pequenas. De vez em quando começam as tretas aqui em casa, eu desligo a televisão, arranco o celular de todo mundo e falo “vamos jogar, vamos brincar”.
E a garotinha regando uma árvore no Vale do Anhangabaú, de onde veio?
Aquela foi uma das mais inesperadas. Eu tinha separado aquela foto do Mavinho mas não sabia muito bem o que ia fazer. Eu gostei da foto, vi que ela passa um sentimento, só a foto em si. Eram cinco da manhã, minha esposa já tinha ido dormir, fui desligar o computador e olhei pra ela. Falei “não, peraí”. Eu vi que a foto passa a sensação de que o lugar é seco, que não tem oxigênio, você vê que até as plantas estão meio tristes, então eu tentei ilustrar isso com a menina regando uma árvore, mas quase não tem água, descem duas gotinhas do regador. E tentei manter as próprias cores do ambiente para fazer essa interação com o lugar.
Pelo que entendi, a criatividade mudou a sua vida.
Mudou. Mudou e salvou também. Eu tive depressão no começo da pandemia e receber todo esse carinho da galera é realmente surreal.
E como você acha que isso pode acontecer também para outras pessoas?
Assim que eu tiver condições eu vou montar um Instituto, já tenho o projeto. Eu quero ajudar a galera, mostrar pra galera que dá pra viver mais leve. Dá pra você ser quem você é, não precisa ser tudo tão quadrado, tão chato. Gente que tem problema com droga, gente que tem problema com depressão, eu quero dar um ânimo, e vou dar um jeito de realizar. Quem me ajudou foi a minha família, mas tem gente por aí que não tem família. Tem gente que tá no mundo sozinho. O que eu passei me ajudou a buscar a criatividade, a esperança, a passar o que eu to sentindo pras pessoas. Dá pra ser mais leve.