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ECONOMIA CRIATIVA: O que é e do que se alimenta?


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“Economia Criativa ainda é um conceito em disputa, que carece de clareza, reforço conceitual, metodológico e crítico. Assim, é também o universo epistemológico normalmente associado ao termo: inovação, empreendedorismo, gestão, planejamento estratégico, arranjos produtivos locais, empresa nascente, cidades criativas, territórios criativos, etc. Uma falta de clareza que confunde tanto os gestores públicos, quanto a sociedade civil e acaba por prejudicar tanto as propostas e formulações quanto as disputas.”

Eliane Costa, consultora nos campos da Gestão Cultural, Economia Criativa e Cultura Digital, reflete sobre a complexidade do conceito no texto que abre a excelente coletânea De Baixo Para Cima. O livro tem artigos sobre Cultura, Inovação e seus processos participativos, de engajamento e colaboração. É de 2014 mas segue atualíssimo em suas provocações. Foi organizado por Costa e Gabriela Augustini, e pode ser lido gratuitamente aqui.

A ideia de Economia Criativa é sem dúvida uma máquina que vai se transformando enquanto funciona, e que funciona enquanto se transforma. E muda seus aspectos dependendo do contexto. O Festival Mundial da Criatividade, que acontece em abril, em São Paulo, vai reunir dezenas de perspectivas diferentes do que possa ser, de fato, uma economia criativa.

A constante polinização para novas genéticas é, portanto, fundamental para a inovação acontecer. Georgia Nicolau, Diretora de Gestão, Empreendedorismo e Inovação da Secretaria de Políticas Culturais do MinC de 2013 a 2016, nos lembra que “Não podemos descartar o fato de que estamos diante de algo relativamente novo no tempo histórico e que necessitamos de uma abertura permanente às novas invenções humanas que possam aprimorar e ampliar nosso campo de atuação.”

“Abertura permanente às invenções humanas” parece um bom plano. Nicolau inicia este mesmo artigo com uma reflexão sobre o futuro ancestral nas tecnologias ameríndias de gestão de riquezas. Além das inovações por vir, existem as invenções humanas que nem foram ainda devidamente apreciadas em seu alto teor criativo, eficiente. O caminho é longo e as direções inúmeras. Mas vamos por partes.

O termo foi desenvolvido originalmente na Inglaterra no final da década de 1990, e definia os setores criativos como aqueles “que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e apresentam um potencial para a criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração de propriedade intelectual”, conforme registra o documento Creative Industries Mapping, publicado pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esportes britânico (DCMS)11 em 1998.

O conceito se popularizou e ganhou reconhecimento mundial em 2002, quando o economista John Anthony Howkins lançou seu livro Economia Criativa – como ganhar dinheiro com ideias criativas.

Podemos partir então de um panorama dado em entrevista para nós pela professora de economia da ESPM, Neusa Santos:

“A Economia Criativa é o estudo do comportamento econômico de alguns setores que são intensivos em criatividade. No momento de crise de 2002, se observou que esses setores como publicidade, arquitetura, tecnologia, eram setores que estavam crescendo em um ritmo mais acelerado que os demais. Isso foi observado em países ricos, começou pela Austrália, depois foi pra Inglaterra, e a ideia foi se alastrando. Esses setores são definidos por cada um dos países: o que é intensivo em criatividade em cada um deles. Mas uma característica comum a qualquer definição é a presença de uma propriedade intelectual: direito autoral, patente ou marca. O que se observa é a sua relevância dentro do PIB. Em economia tradicional, sempre se estudam quatro aspectos: micro-economia, macro-economia, economia internacional e desenvolvimento econômico, onde está a economia criativa. O investimento em negócios desse tipo é sempre um pouco menor, logo o custo de oportunidade também. Portanto é mais eficiente para um país fomentar negócios criativos. E a tecnologia viabiliza as criações: um repente do nordeste de repente é nacional. A tecnologia acelerou o compartilhamento de informações.”

As discussões sobre Economia Criativa chegaram ao Brasil durante a XI Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD/2004), em São Paulo. A internet e suas novas redes traziam possibilidades inéditas para o compartilhamento e mixagem de arquivos, e também problemas inéditos, como acesso ao conhecimento e direitos autorais no mundo digital.

Sete anos depois, a temática foi incorporada pelo Ministério da Cultura (MinC) em 2011, no primeiro ano da gestão de Ana de Hollanda, em uma guinada das políticas para o setor cultural. Era gestada a Secretaria de Economia Criativa, dentro do Ministério da Cultura, interrompida após 2016. Voltaram então os graves problemas de financiamento à cultura. Mas em 2023 esperamos agregar ainda mais camadas de inovação à metamórfica Economia Criativa, em contextos brasileiros e globais.

Terminamos essa breve cronologia com um apontamento de Eliane Costa sobre como pensar a formulação em nosso contexto:

“Uma Economia Criativa possível para o Brasil seria aquela que conseguisse promover economicamente as tecnologias sociais e a diversidade cultural e territorial do país. A Economia Criativa não deveria jamais ser um fim em si mesmo, e muito menos substituir qualquer política cultural setorial ou de base comunitária. Ela deve ser uma lente, um arranjo possível para o discurso sobre cultura e desenvolvimento. Um plug universal que possa receber insumos energéticos da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Social, da Juventude, da Promoção da Igualdade e do Planejamento.”

 

 

Livros e textos chave para pensar a Economia Criativa:

Economia criativa: Como ganhar dinheiro com ideias criativas por John Howkins

A Ascensão da Classe Criativa por Richard Florida

De Baixo Para Cima organizado por Eliane Costa e Gabriela Augustini: https://itsrio.org/wp-content/uploads/2018/01/debaixoparacima.pdf

Mapeamento da Indústria Criativa 2022 (FIRJAN): https://firjan.com.br/economiacriativa/downloads/MapeamentoIndustriaCriativa2022.pdf